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Jovem com a ‘pior dor do mundo’ faz série de cirurgias e entra em sedação profunda; entenda nova etapa do tratamento

Carolina Arruda, com neuralgia do trigêmeo, será sedada após passar por congelamento do nervo e ajustar os implantes feitos no ano passado na Santa Casa de Alfenas, no Sul de Minas.

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Carolina Arruda convive com a neuralgia do trigêmeo há mais de uma década — Foto: Arquivo pessoal/Carolina Arruda

A jovem Carolina Arruda, de 28 anos, inicia nesta quinta-feira (14) na Santa Casa de Alfenas uma série de procedimentos contra a neuralgia do trigêmeo — conhecida como a “pior dor do mundo”, uma condição rara e considerada uma das dores mais intensas que existem.

Segundo a equipe médica, a internação foi feita na quarta-feira (13) sem nenhuma intercorrência. O tratamento será realizado no âmbito de um programa de especialização médica do Sistema Único de Saúde (SUS) e envolve diferentes especialidades.

Veja alguns dos procedimentos já definidos, conforme o médico responsável:

  • Cirurgia para reposicionamento do neuroestimulador, dispositivo implantado para tentar reduzir a percepção da dor;
  • Reabastecimento da bomba de infusão de medicamentos, que libera remédios de forma contínua e precisa ser recarregada a cada dois ou três meses;
  • Crioablação para “congelar” o nervo e interromper os sinais de dor que são enviados ao cérebro;
  • Infusão de cetamina e outros adjuvantes, aplicada por via venosa, sob monitoramento na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

O que é a neuralgia do trigêmeo? É uma condição neurológica caracterizada por crises súbitas e intensas de dor facial, geralmente descrita como choque elétrico ou facada, causada pela irritação ou compressão do nervo trigêmeo. O caso de Carolina é raro por ser bilateral, refratário e atípico, o que dificulta o controle da dor.

Infusão de cetamina

Após as cirurgias, Carolina Arruda ficará em sedação profunda por um período de 3 a 5 dias para a administração da cetamina. Segundo o médico responsável pelo caso, Carlos Marcelo de Barros, o procedimento será feito conforme a paciente reagir à medicação.

O médico explica que a cetamina é um anestésico utilizado há décadas e que, atualmente, também é indicado para alguns casos de dor crônica de difícil controle e depressão grave resistente a outros tratamentos.

“O medicamento age bloqueando receptores no sistema nervoso que amplificam os sinais de dor e, em alguns casos, ajuda a restaurar conexões entre neurônios”, explicou.

A aplicação só pode ser feita em ambiente hospitalar, devido ao risco de efeitos adversos, como alterações na pressão arterial, batimentos cardíacos, respiração e percepção. Dependendo da dose, pode ser necessária sedação para que o paciente tolere a infusão, como o caso de Carolina.

Segundo o especialista, estudos indicam que a cetamina pode reduzir a dor, diminuir a necessidade de opioides e melhorar o humor, mas o uso é restrito a pacientes selecionados e sempre com acompanhamento de profissionais especializados.

Primeira internação de Carolina Arruda na Santa Casa de Alfenas aconteceu em 8 de julho de 2024 — Foto: Carolina Arruda/Arquivo Pessoal
Primeira internação de Carolina Arruda na Santa Casa de Alfenas aconteceu em 8 de julho de 2024 — Foto: Carolina Arruda/Arquivo Pessoal
Expectativa da paciente

Em vídeo publicado nas redes sociais, Carolina afirmou que, depois de seis cirurgias e inúmeros tratamentos, incluindo terapias alternativas sem resultados positivos, aprendeu a não criar expectativas.

A jovem conta que já passou por momentos em que depositou muita esperança na melhora, mas acabou se frustrando.

“Acho que o mais importante é me manter neutra, porque depois eu posso me frustrar como aconteceu nas seis outras cirurgias que já fiz: eu criei muita esperança, expectativa, vontade, certeza de melhorar e acabei que me decepcionei em todas elas. Eu me odiei em todas elas. Me culpei em todas elas. Vou entrar naquele bloco cirúrgico tranquila e sabendo que os médicos fizeram o que estão no alcance deles, eu fiz tudo ao meu alcance”, contou.

Relembre o tratamento

Carolina Arruda convive com a neuralgia do trigêmeo bilateral há mais de uma década. A nova etapa do tratamento dela teve início na quarta-feira (13), pouco mais de um ano após passar a frequentar a Clínica da Dor.

Em julho de 2024, Carolina foi convidada para o tratamento na Santa Casa de Alfenas após a repercussão de sua vaquinha online, na qual buscava recursos para realizar eutanásia na Suíça, país onde a prática é legalizada.

Na primeira consulta, o médico apresentou pelo menos quatro opções de tratamento. Ao longo do processo, ela se submeteu a dois deles: o implante de uma bomba intratecal para administração de fármacos e o implante de neuroestimuladores. Entenda mais abaixo.

Quando chegou à Santa Casa pela primeira vez, Carolina também passou por um período de sedação profunda, quando recebeu medicamentos por via endovenosa e permaneceu cinco dias na UTI. Ao retornar para o quarto, relatou um alívio inédito das dores em mais de uma década. No entanto, os sintomas voltaram no dia seguinte, embora em menor intensidade.

Carolina Arruda tem neuralgia do trigêmeo e mostra nas redes sociais a rotina do tratamento na Santa Casa de Alfenas — Foto: Reprodução / Instagram
Carolina Arruda tem neuralgia do trigêmeo e mostra nas redes sociais a rotina do tratamento na Santa Casa de Alfenas — Foto: Reprodução / Instagram

Pouco antes do implante dos neuroestimuladores, Carolina pediu alta temporária. Em entrevista ao g1, ela contou que a dor persistia, mas que a frequência e a duração das crises haviam diminuído.

No dia 27 de julho, a jovem recebeu o implante dos neuroestimuladores: eletrodos para estimular o nervo e bloquear a transmissão da dor. Os dispositivos foram instalados na medula espinhal e no Gânglio de Gasser, origem facial do nervo trigêmeo.

Em 17 de agosto, foi realizado o implante de uma bomba de medicamentos capaz de liberar os fármacos diretamente no sistema nervoso, reduzindo o trajeto até o ponto de dor. Inicialmente, ela recebeu morfina e depois fentanil.

Mesmo ainda enfrentando “dores incapacitantes”, Carolina recebeu alta hospitalar no fim de agosto. Na ocasião, a Santa Casa de Alfenas informou que no momento não havia nova proposta terapêutica e que seguiriam com os ajustes necessários das terapias já implantadas. Ainda segundo o hospital, o plano de tratamento poderia ser reavaliado caso houvesse melhora no quadro clínico e psicoemocional da paciente.

FONTE: Por G1

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