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‘Morreu fazendo o que gostava’: quem era o gari assassinado a tiros em BH

Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, deixa uma filha de 15, a namorada e uma enteada. Segundo familiares e amigos, era apaixonado pela profissão e em breve seria promovido para trabalhar na portaria da empresa.

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Laudemir de Souza Fernandes foi morto quanto trabalhava na coleta de lixo — Foto: Arquivo pessoal

Estar em um caminhão de coleta de lixo era uma alegria diária para Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, morto na manhã desta segunda-feira (11) em uma discussão de trânsito.

Há nove anos, ele trabalhava para uma empresa de limpeza urbana que presta serviço para a Prefeitura de Belo Horizonte e, mais recentemente, recebeu uma proposta para mudar de setor e trabalhar na portaria.

“O Lau era muito feliz na profissão dele, gostava muito do que fazia. Estava em um processo de transição para ir para a portaria da empresa, não queria muito porque gostava da rua. E se tivesse ido, a gente teria ele aqui. Ele morreu fazendo o que gostava”, lamentou a enteada de Laudemir, Jéssica França.

O gari foi morto a tiros na manhã desta segunda-feira (11) enquanto trabalhava na coleta de lixo no bairro Vista Alegre, Região Oeste de Belo Horizonte. Ele deixa uma filha de 15 anos, a companheira e a enteada.

O crime ocorreu após uma discussão de trânsito com o empresário Renê da Silva Nogueira Junior, que, segundo testemunhas, dirigia um carro elétrico e exigiu que o caminhão de lixo fosse retirado da via.

Após ameaçar a motorista, Renê é suspeito de disparar contra os garis, atingindo Laudemir. O empresário estava sozinho no carro no momento do crime. A vítima foi socorrida pela Polícia Militar, mas não resistiu (relembre o caso abaixo). O g1 ainda não conseguiu contato com a defesa do empresário.

Carinhoso e protetor

Laudemir estava há cinco anos em um relacionamento amoroso com Liliane França. O casal decidiu morar junto desde o começo do namoro.

“Ele saía todos os dias de manhã falando que iria voltar para casa, que iria voltar para a família, que era o que ele mais gostava de fazer. Ele falava das dificuldades do serviço dele, da falta de respeito das pessoas com eles. […] Ele vai fazer muita falta, muita mesmo, era um homem perfeito, que respeitava. […] Dessa vez, ele não voltou para casa. Me devolveram o Lau num caixão”, desabafou a viúva Liliane França, durante o velório.

Segundo a enteada, a família era grande e unida. Viviam juntos a Jéssica, a mãe dela, Laudemir, e a filha dele, uma adolescente de 15 anos, que recentemente foi morar com eles.

“Ele era uma pessoa extremamente protetora e amava fazer o café da manhã aos domingos pra gente. No dia dos pais, a gente almoçou todo mundo junto, ele ficou muito próximo da filha dele. O sentimento é de revolta, de tristeza”, disse Jéssica.

Luto na empresa
Colegas de trabalho de Laudemir foram com o uniforme de trabalho em homenagem ao gari. — Foto: Fábio Venâncio/TV Globo
Colegas de trabalho de Laudemir foram com o uniforme de trabalho em homenagem ao gari. — Foto: Fábio Venâncio/TV Globo

Os colegas de trabalho de Laudemir ficaram muito abalados. Segundo a equipe de limpeza urbana que estava com o gari na hora do crime, ninguém se exaltou diante da ameaça. Laudemir tentou acalmar o empresário e acabou sendo morto.

Em homenagem ao colega, vários foram com uniformes de gari ao velório (veja foto acima). O corpo de Laudemir está sendo velado na Igreja Quadrangular, em Contagem, na Grande BH.

Na empresa, o gari sempre apresentava um comportamento alegre e comprometido com o trabalho. Chegava cedo e tinha o hábito de passar o café pra equipe. Recentemente, recebeu a proposta de ser promovido para a portaria da empresa.

“Era uma pessoa boa, chegava cedo no serviço, fazia café pra todo mundo. Muito prestativo, muito humano. Ele não era de briga e nem confusão. Todo mundo tá arrasado, ninguém esperava isso”, lamentou a colega de trabalho Edna Luzia Soares.

A empresa de limpeza urbana onde Laudemir trabalhava cedeu dois advogados para acompanhar o caso.

Relembre o caso
  • Laudemir Frenandes foi morto a tiros na manhã desta segunda-feira (11), após uma discussão de trânsito. Ele trabalhava na coleta de lixo quando o empresário Renê da Silva Nogueira Júnior pediu que o caminhão fosse retirado da via, para que ele passasse.
  • A mulher que dirigia o caminhão afirmou que tinha espaço suficiente para o carro passar. Ele teria se irritado e ameaçado atirar na motorista. Os garis tentaram intervir e pediram que ele se acalmasse.
  • O crime aconteceu no encontro das ruas Jequitibá e Modestina de Souza, no bairro Vista Alegre, Região Oeste de Belo Horizonte.
  • Horas depois o empresário foi localizado em uma academia, no bairro Estoril, onde foi preso em flagrante. No momento da prisão, ele negou o crime.
  • O suspeito, casado com uma delegada da Polícia Civil de Minas Gerais, foi levado para o Departamento Estadual de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
  • Após o depoimento, ele foi transferido para o Ceresp Gameleira, na Região Oeste de Belo Horizonte. Renê disse que a arma utilizada pertence à esposa, a delegada Ana Paula Lamego Balbino Nogueira.
  • A Polícia foi até o endereço do casal, recolheu a arma utilizada no crime e uma outra, ambas pertencentes à delegada. Ela foi conduzida para a Corregedoria da Polícia Civil para prestar esclarecimentos e teve o celular apreendido.
  • A polícia investiga se houve negligência da parte da delegada na cautela da arma. Caso seja confirmado, caracteriza-se transgressão disciplinar.
As investigações

Segundo as investigações, o empresário Renê da Silva Nogueira Junior não possui registro de arma de fogo no nome dele e nem porte de arma. A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar a conduta da delegada, esposa do empresário, em torno dos crimes de omissão de cautela e prevaricação.

René da Silva Nogueira Júnior ao lado da esposa, a delegada Ana Paula Lamego Balbino Nogueira — Foto: Redes sociais
René da Silva Nogueira Júnior ao lado da esposa, a delegada Ana Paula Lamego Balbino Nogueira — Foto: Redes sociais

FONTE: Por G1

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